sábado, 14 de novembro de 2015

Valorizar a cruz de cada dia

Mestre insuperável, Cristo deixou pedagogicamente normas para seus seguidores. Nunca empregava circunlóquios e expressava taxativamente suas orientações Assim agiu quando lançou esta sentença densa de significado: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz todos os dias e siga-me” (Lc 9,13). 

É de se notar inicialmente que Ele não impôs uma atitude a ser tomada. Entretanto, quem voluntariamente quisesse ser seu discípulo três procedimentos eram basilares. Em primeiro lugar, todas as forças deveriam ser empregadas buscando o triunfo sobre o amor de si mesmo, a inconstância e vencendo o horror a tudo que mortifica a vontade própria. Em síntese, pugna contra aquilo que fosse resistência a Deus e de opusesse às diretrizes de sua graça divina. Em seguida, Cristo mostra que todo ser humano nesta terra, quer queira, quer não, tem que carregar sua cruz de cada dia. Tudo neste mundo exige esforço, coragem determinação e custa sacrifício. 

 O modo como alguém convive com as naturais tribulações da vida é que caracteriza seu seguidor. Este recebe com amor a cruz e cultiva o desejo de morrer para si mesmo e ser imolado a exemplo de Jesus, se comprazendo então com os desígnios de Deus. Por isto a ordem dada foi clara para quem assim sabiamente procede: ”Siga-me”.  O caminho que Ele percorreu foi de total sofrimento como descreveu São Paulo: “Despojou-se a si mesmo, tomando a natureza de servo, tornando-se semelhante aos homens e reconhecido como homem por todo seu exterior, humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte, e à morte de cruz” (Fl 2,7-9). A lembrança desta sua cruz estaria gravada no coração dos que lhe fossem fiéis, crescendo continuamente cada um no ardor pela mesma, não obstante todas as tribulações das quais ela seria o símbolo vivo. Seu seguidor passaria a ter o domínio sobre si mesmo, teria mais paciência nos sofrimentos, mais constância nos bons propósitos, mais indiferença pela estima dos outros, aos quais nunca desprezaria.

 No entanto, quem assim agisse, paradoxalmente, conheceria uma inefável paz interior. Foi o que ocorreu com São Paulo que asseverou: “À medida  que crescem em nós os sofrimentos de Cristo, cresce também por Cristo nossa consolação” (2 Cor 1,5). Estas aflições são a prova da fé de quem é fiel a Deus como bem mostra São Pedro: “Por isso, exultais, embora sofrendo um pouco por ora, se necessário, diversas provações” (1 Pd 1,6). Em tudo, porém, a graça de Deus sustenta o fiel, e este repete sempre com o salmista: “Senhor, vinde em meu auxílio! (Sl 29,11). Com o olhar da fé o discípulo de Cristo vai além de tudo que lhe acontece neste peregrinar terrestre. Exclama com Davi: “À tarde vêm as lágrimas, mas pela manhã, grito de alegria” (Sl 29,6). 

Deste modo, ainda que a vida neste mundo seja uma provação contínua o cristão sabe como transformar tudo isto em méritos para a eternidade. Com isto se dá o que falou o Apóstolo Paulo: “Completo na minha carne o que falta ao sofrimento de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24). É que, embora a Paixão de Cristo tenha um mérito infinito, nada carecendo no seu corpo físico, no seu corpo místico que é a Igreja da qual fazem parte os cristãos, há algo a ser acabado nos seus membros, ou seja, em todos os batizados. Eis por que o verdadeiro discípulo de Cristo carrega sua cruz silenciosamente e longe de fazer os outros sofrerem por isto, se torna uma força viva dentro da comunidade em que vive. Compreende, como bem se expressou o teólogo Ricardo Graef, que “é  uma grande graça o poder sofrer, é um sinal  de predestinação e de um favor especial que Deus nos faz”. O Pe. Grou mostrou que “ toda a moral evangélica se reduz a carregar cada um sua cruz, a se renunciar, a crucificar a carne e a cobiça”.  

Quem assim age esta convencido da malícia infinita do pecado, causador dos padecimentos de Jesus no Calvário. Por reconhecer sua miséria, quem tem fé faz de seus padecimentos pessoais, acatados com sabedoria, uma arma contra as invectivas diabólicas.

 Deste modo, corresponde à grande misericórdia daquele que por ele e por toda a humanidade sofreu e morreu lá no Gólgota. Assim, as virtudes são praticadas, como a caridade para com o próximo, o perdão das injúrias, o amor aos desafetos, a humildade, o desapego das ilusões terrenas, a paciência. O autêntico cristão traz consigo a cruz de Cristo fixa no  seu 

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