sábado, 14 de novembro de 2015

Visão realista da vida

Aos olhos do mundo é triste a situação do autêntico cristão que evita as ilusões terrenas. Quando, porém, se tem uma visão realista da vida, é exatamente o contrario que se dá. Os falsos prazeres a que muitos se entregam escravizam e embrutecem o ser humano, ao passo que a prática das virtudes o liberta e enobrece. 

 O remorso acompanha sempre, inevitavelmente, aquele que se entrega aos desvarios morais, tendo aberto as portas a todos os transtornos psicossomáticos. Nada se compara, porém, ao júbilo íntimo daquele que, vencendo-se a si mesmo, se compraz na lei do Senhor.

 O Livro da Sabedoria mostra como os ímpios se enganam, “porque sua malícia os cega, e não compreendem os segredos de Deus, nem esperam a recompensa da religião, nem creem num galardão das almas puras” (Sb 2,22).  Davi conclama, porém: “Gostai e vede como é bom o Senhor, feliz do homem que a ele se recomenda. Temei o Senhor, vós, seus santos, porque nada faltará aos que o temem” (Sl 34,9-10).  Quem assim procede é que deparará a autêntica felicidade que o mundo jamais pode oferecer. Realiza o desejo amoroso de Deus que quer a ventura de todos que O amam. Como bem se expressou São Paulo na Carta aos Efésios, “Ele nos escolheu em Cristo, antes que o mundo fosse criado, para sermos santos e sem pecado diante de sua face graças a seu amor” (Ef 1,4).  Ocorre então o que este Apóstolo disse a Timóteo, afirmando que a palavra de Deus age em nós e produz seus maravilhosos efeitos, porque acolhida não como uma mensagem vinda dos homens (1 Tm 2,13). O Pe.  Ricardo Graef com razão afirmou que “na corajosa execução da atual vontade divina consiste a melhor valorização do momento presente” Isto significa ter uma visão realista da vida.

 Trata-se de cumprir o que Deus falou no Gênesis: “Anda na minha presença e sê irrepreensível” (Gên 17,1) Daí a necessidade da vigilância para se estar atento, continuamente realizando, com toda perfeição possível, o que se deve fazer naquele momento. A inspiração divina ilumina a todo instante os de boa vontade. Se ocorrer uma falha, imediatamente o erro é corrigido. Embora não se deva cair num mero perfeccionismo, dado que somente Deus é perfeito, o verdadeiro cristão nunca se acomoda, ratificando o que é censurável. Na trajetória espiritual qualquer indecisão leva infalivelmente a novos desacertos.  É necessário sintonizar sempre os pensamentos, desejos e ações com o Senhor de tudo. Platão, pensador pagão, deixou esta frase esplendorosa: “Não há nada mais belo, nem maior felicidade para um coração nobre do que viver constantemente unido à divindade”.

  O cristão, porém, iluminado pela fé com mais razão pode viver esta realidade, pois Jesus foi claro: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). Portanto, basta um ato de amor ao Deus Uno e Trino para que os inevitáveis pequenos desvios sejam corrigidos. Isto porque as faltas graves estão banidas da vida de quem vive o ideal traçado por Cristo: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Esta é a tarefa do cristão que traduz em ações concretas a realidade de sua filiação divina e de sua fé na doutrina do Mestre divino. Fé sólida e pessoal que conduz a um maravilhoso discernimento espiritual. Pode-se então atingir o que está na Carta aos Romanos sempre distinguindo “qual é a vontade de Deus, o bom, o agradável a ele, o perfeito” (Rm 12,2). À medida que o cristão avança no desapego do mundo e vive em função das verdades eternas passa a perceber quase que conaturalmente o que corresponde autenticamente aos desígnios salvíficos de Deus. Ocorre o que afirmou São João: “Nós sabemos que veio o Filho de Deus e nos deu a inteligência para conhecermos o Verdadeiro e nós estamos no Verdadeiro, no seu Filho, Jesus Cristo” (1 Jo 5,20). Inúmeros os que penetram estes caminhos divinos, mediante o dom  da sabedoria e refletem em sua existência a virtudes teologais.

 Usufruem as maravilhas que Deus espalhou neste mundo, exploram as qualidades pessoais que dele recebeu e vivem tranquilos, enfrentando com destemor os sofrimentos inevitáveis a este exílio terreno.

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