terça-feira, 16 de junho de 2015

Santo Antônio, luz da Igreja

Este santo que hoje se faz objeto de nossa atenção é bem digno de todas as honrarias. Fernando foi o nome que Santo Antônio recebeu no dia de seu batismo em Lisboa, cidade que o viu nascer em 1195 dentro de uma família nobre e rica.

 Filho de Martinho de Bulhões e Maria Teresa de Taveira, pais de comprovada virtude que souberam transmitir ao filho um exemplo magnífico de vida cristã. Bem cedo fulgiram as qualidades de Fernando, que primava pela piedade e correção de atitudes. Sua primeira escola foi a comunidade dos cônegos da catedral de Lisboa.

 Completados os quinze anos quis entrar para a Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Em Lisboa, a visita de parentes e amigos o distraiam de seu objetivo de profunda união com Deus e entrega total a seus estudos a bem da evangelização que tinha em mira. Isto motivou o pedido de Fernando para ser transferido para a cidade de Coimbra, onde prosseguiu sua existência de eclesiástico exemplar.

 Certa vez ele presenciou a partida de cinco franciscanos para as missões na África e cintilou no seu coração o desejo de se tornar discípulo de São Francisco. Um fato o fez tomar esta resolução: aqueles missionários que tinham ido para a África foram martirizados e Frei Fernando assistiu o féretro daqueles heróis em Portugal.

 Fez-se franciscano e, em 1220, toma o nome de Antônio com o qual entraria na História como um dos santos mais populares. Logo se colocou à disposição de seus superiores para as Missões na África, visando a conversão dos mouros. Tais não eram os planos de Deus, pois lá chegando uma enfermidade o obrigou a regressar à Europa, não para Portugal, mas para a Itália, dado que uma tempestade desviou a embarcação para as costas da Sicília. Desembarcou em Messina e, de lá, foi para Assis, onde estava São Francisco.

 No capítulo geral da Ordem, ninguém deu conta de sua presença, mas como houve logo depois uma ordenação em Forli, faltando o pregador, ele foi escolhido para falar à comunidade dos frades. Sucesso absoluto! Todos ficaram assombrados com a unção daquele jovem pregador, com o conteúdo de sua doutrina, com sua irradiante santidade de vida. Todos concluíram que ali estava um talento escondido e que deveria ser aproveitado a bem da Evangelização. Grande era, de fato, sua sabedoria. São Francisco mesmo o encarregou de ensinar teologia aos frades. Antônio lecionou em Bolonha, Montpellier, Toulouse e Pádua.

 Sábio e santo, seus sermões arrastavam multidões que enchiam as igrejas para escutar a Palavra de Deus. Como salientou o papa São João Paulo II, “toda a sua pregação foi um contínuo e incansável anúncio do Evangelho”. A pregação era o seu modo de acender a fé nas almas, de as purificar e iluminar. Ouvintes de todas as classes sociais e crenças e sua palavra tocava os corações mais empedernido. Ele combatia a avareza, a usura, a prepotência, a corrupção dos costumes, as heresias que campeavam pela Europa de então e fazia tudo isto movido por um maravilhoso zelo pela causa de Deus. Gostava de pregar sobretudo para os pobres e admirável sua caridade para com os mais humildes. Era um enamorado da Santa Pobreza.

 O sucesso extraordinário de sua comunicação mostra que ele sabia como se dirigir aos seus ouvintes numa empatia total. Transmitiu o conteúdo da fé e fez acolher os valores do Evangelho de acordo com a cultura popular de seu tempo. Sua fama se espalhou e as graças que as pessoas alcançavam com suas bênçãos fizeram com que entrasse para a História como o santo dos milagres. A imaginação popular multiplicou inclusive tais prodígios, floreando uma existência admirável. Seus prodígios foram até imortalizados pelos artistas como a pregação aos peixes, a mula que se prostrou diante da Eucaristia a uma ordem sua, o coração do avarento encontrado no meio de seu tesouro, o pé amputado que o santo juntou a sua perna, outras numerosas curas, e o célebre aparecimento do Menino Jesus a ele, o que originou suas tradicionais imagens.

 O certo, porém, é que Deus o dotou com o dom dos milagres. Trinta e seis anos de vida e Antônio falecia. Foi enterrado em Pádua, cidade que lhe emprestaria o nome e lhe prestaria singular homenagem com uma Basílica magnífica onde está o seu corpo e sua língua que não se corrompeu.   Tornou-se  também o santo que abençoa aqueles que querem um bom casamento.

 Ele está a dizer a cada um de seus devotos: "O fiel Cristão, iluminado pelo resplendor de Cristo, deve emitir centelhas de palavras e exemplos para, com eles, inflamar o próximo". Com nossas palavras e gestos podemos e devemos anunciar a Cristo aos que necessitam, ou seja, precisamos servir os outros, Jesus foi claro: “Vós sois a luz do mundo, brilhe a todos vossa luz” (Mt 5,16).

Germinação e crescimento do Reino de Deus

São Marcos é o único evangelista que narra a parábola da germinação e crescimento do Reino de Deus (Mc 4,26-29). Trata-se de uma visão otimista. Quando a esperança dos judeus levava as pessoas a procurar obras deslumbrantes do Messias e quando tudo induzia a crer na derrocada de Jesus, Ele mostra aos discípulos que o destino do Reino era crescer. O grão foi lançado na terra. É preciso esperar com paciência. A germinação do grão era tão misteriosa como é a própria origem da vida. No grão de trigo está oculta uma força imperceptível, sempre ativa a dizer ao homem: que cumpre não desesperar, mas semear. O Reino de Deus neste mundo não caminha para a morte, mas para a vida e para a alegria da colheita. Não obstante toda oposição que se fazia à pregação do Mestre divino, Ele tinha a certeza absoluta de que seu Reino haveria de misteriosamente se expandir. Dois mil e quinze anos depois, aí estão, de fato, borbulhando na história sua Palavra redentora e, apesar de todas as borrascas a missão redentora prossegue e milhares são aqueles que marcham para o Reino eterno que Deus preparou para os que Lhe são fiéis. Jesus relacionou em seguida outra parábola, dizendo que a semente lançada na terra pode ser tão minúscula como um grão de mostarda, cuja pequenez é proverbial (Mc 34, 30-24). Deste germe quase invisível nascerá uma grande árvore em cujas sombras se acolhem as aves do céu. Cristo mostra que apesar do modesto início de sua Igreja a amplitude do Reino de Deus é tão grande que se acha aberto a todas as nações e a todos os povos. Esta Igreja seria católica, isto é, como uma árvore frondosa a abrigar todas as gentes através dos tempos. Jesus quis, assim, mostrar que quanto mais os problemas haveriam de parecer insuperáveis, maior deveria ser a confiança face ao futuro. Cumpre, porém, salientar que o dinamismo do Reino atua na Igreja. Isto significa somente que as duas realidades Igreja e Reino de Deus se situam num paralelismo que as relaciona entre si, embora sejam realidades diferentes. A Igreja como instituição de salvação é essencialmente ordenada ao Reino e vai de encontro a este tesouro. A Igreja tornar-se-á um dia a comunidade de Deus no Reino perfeito e definitivo. Neste caso fica claro que a Igreja, enquanto comunidade dos que esperam este Reino definitivo, é o primeiro degrau rumo ao mesmo. Aí já vem uma implicação prática de grande alcance: o fato de se pertencer à Igreja não oferece nenhuma garantia de futura participação no Reino eterno de Deus, pois os cristãos vivem um tempo de prova. Jesus, aliás, foi bem claro, “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). O Reino é, realmente, um tesouro, um dom de Deus, o valor essencial que é preciso conquistar.  Então é necessário cumprir certas condições. Ele não é uma paga devida por justiça, mas uma conquista contínua nesta terra. Por isto Jesus advertiu: “Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam" (Mt 11,12). Sua consecução supõe bravura, intrepidez, ousadia, resolução, perseverança. Cumpre estar cada um de nós comprometido com esta realidade misteriosa que Jesus veio instaurar aqui na terra. Duas questões fundamentais então ficam levantadas, ou seja, bem entender qual a natureza do Reino de Deus e quais suas exigências práticas. Somos a Igreja que se sente amada pelo Pai, que é apaixonada por Cristo e que, em consequência disso, se mostra entusiasmada pela causa de Jesus que veio propor o Reino do Pai. A temática do Reino nos leva, deste modo, àquela realidade nova querida por Deus para este mundo no qual se vive, um reino onde a justiça e a paz têm a primazia, onde o amor é vivenciado como realidade e não apenas como ideal. Neste sentido, a Igreja é a expressão palpável do Reino entre nós e nós, que somos a Igreja, os sujeitos da sua realização efetiva nesta terra devemos caminhar sem desânimo, fazendo tudo que estiver ao alcance de cada um para um estar no Reino Eterno que Jesus preparou para todos. Lutar, além, disto, para que a Igreja cresça na terra cada vez mais conduzindo multidões para a Casa do Pai.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Impostos, recursos dos incompetentes

No Brasil, que possui uma das maiores cargas tributárias do mundo, o Governo está a ameaçar novos impostos. Segundo os experts no assunto, hoje o cidadão deste país já paga o dobro do que se arrecadava na época da Conjuração Mineira! Desta conspiração resultou a histórica revolta que imortalizou Tiradentes e bravos personagens que ergueram corajosamente sua voz contra as arbitrariedades da Metrópole. Hoje, quase cinquenta por cento da renda do povo deste país é para pagar tributos que lhes são fixados por aqueles que detêm o poder nas mãos A voracidade fiscal, portanto, continua até nossos dias e, na verdade com muito mais avidez por parte dos governantes.  O Estado se apresenta ante os cidadãos como um cobrador inexorável e sem piedade, revestido de um autoritarismo alarmante. Este é um dos aspectos a ser refletido no momento trágico que vive uma nação, a qual, no entanto, é “gigante pela própria natureza”. Maus políticos, péssimos administradores, porém, depredam o tesouro nacional. Falta dinheiro para gastarem perdulariamente e então metem a mão no bolso do contribuinte. Cumpre denunciar tudo isto, pois os impostos escorchantes são o recurso dos incompetentes.  Este clamor deve ecoar por toda parte sob pena de não se haurirem da História, que é a “mestra da vida”, os ensinamentos que ela ministra a bem da sociedade. Cidadania é saber também protestar com sabedoria contra o esmagamento ao qual a população fica submetida. Uma classe social a fixar as taxas e a outra a pagar, contemplando a malversação das fabulosas quantias arrecadadas. Rui Barbosa já dizia que “é de sua essência, o importo sobre a renda, o mais intrusivo dos impostos, o mais inquisitório, o mais ocasionado a conflitos entre autoridade e os contribuintes. Devassando as fortunas, devassa a vida individual no recato”. É o aterrador imposto de renda que muitos a cada mês com tristeza veem descontado nos seus salários, bem menores dos que os dos políticos que reinam em Brasília, nas Assembleias Legislativas dos Estados, nas Câmaras Municipais das Cidades e em outras sinecuras apadrinhadas que foram por correligionários influentes. A preocupação maior, infelizmente, de muitos homens públicos é arrecadar e gastar mal o que recolhem dos cidadãos. Entretanto, já mostrava Caio Salústio Crispo, um dos grandes escritores latinos que “a avareza é corruptora da fidelidade, da honradez de todas as demais virtudes”. Quando o avarento se enriquece às custas dos outros, os efeitos éticos são muito piores e é toda um país que sofre suas consequências, como as que hoje se dão nesta pátria bem-amada. Que reine, porém, a ética, elemento basilar para que surja uma tessitura humanística, a qual leve certos políticos a  melhor governar. Então, sim, não apelarão para mais impostos, a arma dos incapazes.

Blasfêmia contra o Espirito Santo

Transparente e incisiva a declaração de Cristo: “Quem blasfemar contra o Espírito Santo jamais alcançará perdão, mas será réu de pecado eterno” (Mc 3,28). Cumpre então saber exatamente em que consiste este pecado contra o Espírito Santo. Segundo notáveis teólogos, esta falta, que não conhece a anistia divina, se trata da negação voluntária da misericórdia de Deus. Este é providência, é misericordioso, bondade infinita. No dizer de São João “Deus é amor”. (1 Jo 4,8). Assim sendo Ele é clemência, comiseração e perdoa sempre. Na medida em que o ser racional se lança nas mãos desta compaixão sem limites, arrependido de suas faltas, abre as portas ao perdão, à remissão de suas culpas. O Todo-Poderoso Senhor pode livrar o homem do domínio do demônio e das consequências de suas invectivas que levam ao mal. Entretanto aquele que cerra seu coração à ternura divina, fechando os olhos à evidência de que Deus o ama e recusa seu indulto, não quer ser perdoado, é lógico que esta a pessoa se torna réu de um pecado sem absolvição. É aquele que se tranca, se enclausura em seu pecado. Eis aí a blasfêmia contra o Espírito Santo. Trata-se da negação do amor de Deus numa afirmação pessoal de que Ele é menor que o poder de satanás, que leva à desobediência ao Ser Supremo. O domínio do mal se torna então mais forte do que a força do bem. Quem assim procede não pode ser perdoado porque recusa abertamente o perdão de Deus, usando erroneamente da prerrogativa da liberdade humana. Deus jamais se impõe, Ele se propõe. Ele quer a felicidade do ser humano e sua salvação eterna, mas respeita o livre arbítrio, a faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação. Deus não pode obrigar a ninguém a amá-lo O amor só pode ser livre, um elã espontâneo, jubiloso que flui lá de dentro de cada um. Assim sendo, o pecado contra o Espírito Santo é o pecado contra a evidência do amor de Deus, uma afronta a sua desvelo sem limites. Triste a situação daquele que recusa abertamente ser perdoado pelo seu Senhor. O homem coloca uma barreira instransponível para a ação divina. Recusa à luz de uma dileção eterna do Criador que não pode perdoar a força. Ele não introduz ninguém no seu Reino a contra gosto de quem lá não quer entrar. Este pecado é contra o Espírito Santo porque Ele é o amor eterno, consubstancial entre o Pai e o Filho. Ele é a luz interior que faz o ser racional entrever o mistério da Trindade Santa. Desprezar voluntariamente esta luz interior é, de fato, uma blasfêmia que não pode ser perdoada. É o cúmulo de um desespero que não tem justificativa alguma. Todas estas explicações conduzem, porém a um apelo a que cada um mergulhe sua vida no oceano imenso do amor de Deus. É preciso escutar sempre o Espírito Santo. A desesperança, porém, bloqueia a percepção deste apelo. Jamais blasfemar contra o amor divino! É preciso, entretanto, controlar tudo que impede um maior diálogo com Deus, Muitos dão mais tempo à internet, às redes da televisão e a outros meios de comunicação do que a seu Senhor que bate às portas do coração para ajudar, para consolar.  É preciso fazer a experiência do perdão de Deus e isto torna o cristão mais forte diante da passividade e dos temores. Deus oferece coragem perante as dificuldades e firma a fidelidade à verdade. É necessário pedir ao Espírito Santo perseverança no seu amor, abrindo as portas do próprio coração a suas luzes. Estas mostrarão a imensidade da misericórdia divina. Então se compreenderá que quem faz a vontade de Deus e nunca blasfema contra o Espírito Santo estará salvo e nunca será réu de pecado eterno. Em síntese, para que não haja o perigo do pecado contra o Espírito Santo, blasfêmia intolerável, é preciso uma luta contínua, perseverante contra o desânimo. Esta luta perdura a vida toda. A salvação eterna começa com esforços sustentados pela graça e é, deste modo, uma operação divina. O cristão deve ser corajoso e fiel nunca perdendo a esperança. Coloca toda sua confiança em Deus, sabedor de que o reino do céu só se obtém com a violência contras as insídias satânicas que levam à revolta contra o Espírito Santo. Assim, disto resulta fatalmente a total adesão a este Deus numa identificação completa a Cristo como preconiza o próprio Mestre Divino, pois quem assim procede é para Ele “irmão, irmã e mãe” O exemplo foi dado por Maria sempre submissa aos desígnios de Deus. Imitar o “sim" da Mãe de Jesus é nunca trilhar os caminhos infelizes da desesperação. Além disto, é preciso em tudo imitar a Jesus que afirmou: “O meu alimento é fazer a vontade de meu Pai que está nos céus” (Jo 4,34).

terça-feira, 2 de junho de 2015

A essência da vida cristã


Do Pai ao Filho, do Filho aos discípulos, um só amor que a todos deve envolver eis o que ensinou Jesus ao dizer: “Como o Pai me amou também eu vos amei, permanecei no meu amor”. Acrescentou: “Este é o meu mandamento que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,9-17). Aí está a essência da vida cristã. Como o próprio Cristo explicou, permanecer no seu amor é observar os seus mandamentos. Isto inclui então uma perseverança e fidelidade absolutas a abarcar todas as ações do seguidor do Mestre divino. Ele sempre fiel aos mandamentos do Pai, se apresenta não apenas como um exemplo a ser imitado, um modelo que se exibe a seu epígono, mas se trata de uma conexão com a fonte deste amor que jorra da Trindade Santa. De fato, o Filho nos ama não com uma dileção qualquer, mas com o amor com o qual é amado por seu Pai desde toda a eternidade. Este amor que deve se irradiar entre os cristãos tem então uma característica própria bem diferente de uma simples filantropia por mais louvável que esta possa ser. Ultrapassa-a, pois leva à imolação pelo próximo visto como irmão. Assim sendo este nunca é agredido pela maledicência, pelo desprezo, por qualquer outro tipo de ofensa. O fundamento disto é uma fé profunda, uma vez que a comunhão das vontades é um dom que só se justifica na pessoa de Cristo vista na figura do próximo. Então a vida em comunidade, a começar da comunidade familiar, muda completamente de aspecto e o relacionamento com os outros se torna suportável por mais difícil que possa parecer. Como Deus nos ama gratuitamente sem restrições surge entre os que nele creem a boa convivência. O verdadeiro discípulo de Jesus vence, em consequência, suas atonias, seu orgulho, sua falta de lhaneza, de afabilidade, de amabilidade, de delicadeza. Entende-se, desta maneira, o que ensinou São Paulo aos Gálatas: “Fostes batizados em Cristo, revestistes-vos de Cristo. Não há judeu, nem gentio, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, todos vós sois um só em Cristo” (Gl 3,27-29). Trata-se de abandonar qualquer exclusão e de triunfar sobre o egoísmo que causa tantos dissabores dentro de casa, no trabalho e leva tantas amizades a se perderem. Na relação com os pais os filhos muitas vezes revelam não gratidão, mas um lamentável desagradecimento, ignorando tantos sacrifícios que por eles foram e têm sido feitos. Em todas as circunstâncias o amor, realmente, exige reciprocidade. Entretanto, quer no ambiente doméstico entre os esposos e filhos, quer onde o cristão esteja, cumpre tomar sempre uma destas atitudes conforme as circunstâncias: ou calar para depois buscar ume explicação daquilo que causou algum aborrecimento ou delicadamente resolver logo o impasse. Como bem diz o ditado, é conversando que se entende. Entretanto, para isto, ou seja, para ser capaz de amar os outros em atos e em verdade é preciso possuir lá dentro do coração o verdadeiro amor que flui da permanência continua no amor de Jesus. Ele ensina como possuir uma dileção incondicional que se manifeste em gestos, palavras, ações.  Em Cristo se aprende como amar e ser amado. Daí resulta felicidade, paz, tranquilidade, harmonia total. Foi Ele mesmo quem afirmou: “ Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita”. Ser cortês, delicado, amável é difícil, mas quem se acha unido à fonte de verdadeira caridade sabe se dominar e  nunca admite em o desamor. Esta fraternidade não se mede pelo barômetro do sentimento, mas, como foi dito,  pelo grau da união com o Mestre divino. Daí jorra, realmente  nas ações de cada instante o interesse e a dedicação ao próximo. Deste modo, se compreende que amar os outros é fazer com que eles nunca sejam ofendidos, não obstante os obstáculos e as sombras da debilidade humana. Nada mais honroso para o cristão do que caminhar nas veredas da caridade. Isto abre espaços no próprio coração e na existência dos outros. Quando o amor de Cristo  encontra eco na vida de seu seguidor tudo muda em seu derredor. Por vezes a caminhada da abnegação é dolorosa diante das incongruências alheias. É neste instante que cada um deve fazer frutificar a paciência para que o fruto de seu amor permaneça, pois este cristão se sente, realmente, como um escolhido por Cristo para fazer os outros felizes

A devoção de Santa Rita à Virgem Maria

Todos os biógrafos de Santa Rita de Cássia são unânimes em exaltar a devoção desta santa prodigiosa à Paixão de Jesus e à Eucaristia.
De um modo geral falam que ela amava profundamente à Mãe de Jesus e muito a venerava.

Entretanto, enquanto o espinho da Coroa de Cristo em sua fronte é o atestado histórico patente de sua devoção ao Divino Crucificado e o fervor com que participava da Santa Missa é proclamado com detalhes, não se tem um fato concreto sobre a origem de seu grande amor a Nossa Senhora. 

No que diz respeito a sua piedade eucarística há documentos que mostram como a impressionou um sermão de um frade agostiniano sobre os sofrimentos do Redentor numa Missa celebrada em Cássia. Foi depois desta prédica que ela, recolhida na sua cela, atraiu como uma flecha aquele espinho que tanto a martirizou.

Agora, porém, o historiador Omero Sabatini, numa preciosíssima monografia, abordando a Ermida da Virgem da Estrela, próxima a Roccaporena, vilarejo onde nasceu Santa Rita, apresenta um fato marcante na existência desta santa. 
Esta capela antes denominada Ermida Agostiniana da Santa Cruz em Vallenoce, localizada ao longo da montanha em direção às pequenas casas de Roccaporena, já era na infância de Santa Rita um lugar de peregrinação.

Ao percorrer documentos históricos o aludido historiador se emocionou com o fato de que os moradores da pequenina aldeia de Roccaporena fazerem sua caminhada de fé até aquele lugar de rica e extraordinária experiência de Deus. Sabatini fala então dos caminhos de Rita baseado em documentos objetivamente confiáveis ante a crítica científica externa e interna dos mesmos. Os arquivos contêm informações da gente humilde que entre 1300 a 1400 ia à referida ermida, onde os religiosos agostinianos viviam a chamada de Deus dentro do espaço privilegiado da oração num cenário maravilhoso. 

Há então razões históricas para localizar e contemplar um pouco da vida cotidiana de Santa Rita. Esta, com efeito, levada pelos seus piedosíssimos pais Antônio Totti e Amada Mancini esteve várias vezes nestes sítios privilegiados, dado que era praticamente toda a população da pequena aldeia que se movimentava participando daquela caminhada de fé. 

Pois bem, na Ermida, hoje denominada de Nossa Senhora da Estrela, se acha pintada a Virgem Maria com belíssima auréola, um manto azul, um vertido branco com mangas vermelhas e, o que é mais notável, amamentando o Menino Jesus que lhe acaricia ternamente o seio de Sua Mãe. Um dia uma mulher encantada com os ensinamentos de Jesus exclamaria no meio da multidão: “Ditosos os seios em que fostes amamentado” ( Lc 11,27) 

Sem dúvida, portanto, Santa Rita diante do referido ícone viu sedimentada sua devoção à Virgem Maria. Esta ermida foi para ela um lugar profético, onde, até hoje, os peregrinos se dirigem para acolher as inspirações de Deus através daquela que alimentou o próprio Filho de Deus. O rosto de Virgem na citada pintura inspira profundo amor a Jesus, nutre a esperança na vida eterna e leva a uma grande devoção a Maria. 

Ser humilde como Jesus

De uma criatura presunçosa Deus retira sua força e a abandona a si mesma. Ele e somente Ele é o único autor e consumador de todo bem que há no cristão. Donde quem confia em si e se blasona de suas ações está a caminho certo de toda miséria moral. É sabedoria celestial se apoiar apenas na graça divina. Nada mais detestável à onisciência do Senhor Onipotente do que a auto complacência, a exaltação mórbida do próprio ego, a autoadmiração. Eis por que tantos cristãos que, bem intencionados, procuram se santificar, logo que começam a interiormente se julgar virtuosos abandonam a caminhada.  Esta empáfia, realmente, impede que Deus continue a outorgar sua proteção e ajuda. Como deixam de orar ainda mais intensamente por se julgarem  pessoalmente suficientes passam s sentir até desgosto, repugnância da prática das virtudes, dado que, lhes faltando o amparo celeste, fica difícil superar obstáculos, e se lhes agigantam na mente dificuldades que parecem insuperáveis. De fato, como ajuizavam que eram fortes e podiam realizar façanhas espirituais pelas suas próprias forças, diante dos contratempos que surgem, percebem que são, ao contrário, fracas e indecisas. No momento, contudo,  que o cristão toma consciência de seu nada, de sua incapacidade e se volta para Deus numa humilde oração, ele faz uma revisão de vida. Proclama então a seu Senhor que sem Ele nada pode e reconhece ser necessário o arrimo celeste para se fazer o bem. Fica então em condições de superar a malignidade da natureza humana e reconhece que de si mesmo não consegue realizar a mínima boa ação. Tal cristão não conta mais consigo, mas se torna capaz de receber a energia do alto. Com esta força já consegue enfrentar sofrimentos, humilhações, trabalhos, fadigas para glória de Deus e bem dos outros. Quer ser nas mãos divinas um mero instrumento. Repete com São Paulo: “Pela graça de Deus sou o que sou” (1 Cor 16,10).  Por isto intensifica seus pedidos ao Ser Supremo para que o ajude. Mentaliza as palavras de Cristo: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Fica convencido do que diz o salmista: “Com Deus faremos proezas” (Sl 108,13). Permanece deste modo vencido também a pusilanimidade. Esta é filha da falta de fé e torna o cristão inerme, irresoluto. O remédio contra a presunção é a intima convicção de que Deus é a fonte de todo bem e que a criatura humana é  limitada, não tem em si a razão de seu existir. Quando tudo se atribui ao Onipotente Senhor desaparece a fraqueza de ânimo, a debilidade, a insegurança. Portanto, o verdadeiro seguidor de Cristo precisa ser humilde, pois a humildade o inundará nas luzes divinas, nunca negadas a quem sempre agradece a Deus todo bem que pratica, tudo que possui. Cumpre, contudo, perseverar no espírito de humildade, pois a perseverança deve conduzir a uma perfeita conduta, como adverte São Tiago (Tg 1,26). A humildade deve e se tornar um estilo de vida que erradica a autossuficiência e leva ao autêntico louvor a Deus, reconhecendo a superabundância de seus dons. Esta virtude entra no plano histórico-salvífico de cada cristão, pois imerge continuamente em novas graças divinas. O fiel passa a reconhecer a Deus em sua sabedoria e poder absolutos.  Aceita-se como é com suas qualidades a serem cultivadas e seus defeitos que precisam ser combatidos. Confia sem limites e sem reservas na sabedoria de Deus e na sua força infinita. Trata-se do "antipecado", da "antisoberba" e assim o homem não ousa se sobrepor ao Ser Supremo.  Os anjos rebeldes, chefiados por Lúcifer, quiseram suplantar o Criador e se tornaram espíritos das trevas. A humildade é exatamente a relação pessoal com Deus e rejeição do maligno.  O humilde de coração vive e cresce em Cristo e se deixa levar pelo modo de ser do Filho de Deus.  Com efeito, afirmou São Paulo, Cristo “se humilhou, fazendo-se obediente até à morte e à morte de cruz” (Fl 2,8). É que em Jesus e de Jesus nasce o coração humilde. Por tudo isto a humildade não é uma avaliação pessimista do ser humano, mas a afirmação de que Deus é a fonte da luz, da força transformadora que age nos que nele confiam. Exime-se assim o batizado da preocupação de garantir-se a si mesmo.  A humildade induz à sintonia com o poder divino. Portanto, esta virtude deve ser um sinal do cristão que não furta nunca a glória divina, mas  rende a Deus toda honra por tudo de bom que tem e faz.

Um só Deus em três pessoas


O mistério da Santíssima Trindade é a verdade de Deus. Nela é que o ser racional encontra sua plenitude. A pedagogia divina revelou que há um só Deus em Três Pessoas, mas  através de Jesus Cristo que  ordenou aos Apóstolos que batizassem em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19). O Verbo Encarnado, entretanto, manifestou sempre este Deus como um Deus misericordioso, amigo dos homens. Mostrou assim que o essencial da fé nesta terra deve se fixar nas maravilhas que a Trindade Santa fez e realiza pela humanidade. Deus mostrou aos homens menos quem Ele é e mais o que Ele é para todas as suas criaturas racionais. De fato, a criação O patenteia como generoso, dispensador da vida e de todos os bens. O fato mesmo da Encarnação da Segunda Pessoa desta Trindade bendita O manifesta muito perto de todos. O Filho de Deus se fez em tudo semelhante aos homens, menos no pecado. Falou sobre o Pai e prometeu o dom do Espírito Santo, recebido pelos Apóstolos no dia de Pentecostes. Os sacramentos por Ele instituídos fortificam o seu seguidor na sua trajetória terrena. Sua doutrina baliza a rota do cristão e o impede de cair em desvios perigosos. Deste modo, o Deus Uno e Trino se desvendou como Aquele que é em tudo gratuidade. Assim sendo, mais do que desejar decifrar mentalmente o mistério trinitário, Deus quer que O amemos. Ao Pai que nos criou, ao Filho que nos redimiu, ao Espírito Santo que nos santifica. Este Espírito nos ilumina com sua luz interior, levando-nos a contemplar a unidade divina, sua absoluta simplicidade, descobrindo a Trindade divina, a comunhão eterna de três pessoas realmente distintas numa só substância, numa só natureza, coeternas. Unidade e unicidade admiráveis do Ser Supremo. O Espírito Santo, deste modo, nos inicia nos segredos de Deus. Amor eterno do Pai e do Filho, Ele nos ensina que amar a Deus é amá-lo em seu mistério trinitário. A felicidade perene dos que viverem nesta terra em função deste mistério será a contemplação da Santíssima Trindade por toda a eternidade. Tal será a felicidade no céu no inesgotável louvor ao Deus Uno e Trino, mistério insondável que ultrapassa a capacidade da inteligência humana. A história de Santo Agostinho que muitos conhecem, é sumamente elucidativa. Este santo andava numa praia meditando sobre este mistério trinitário. Enquanto caminhava observou uma criança com um pequeno copo com água. Ela ia até o mar, trazia a água e a derramava numa pequena fenda que havia feito na areia. Repetia isto sem parar até que Santo Agostinho resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia. A resposta foi surpreendente: “Estou querendo colocar a água do mar nesta fenda”. Santo Agostinho lhe disse ser isto impossível. O menino então olhando para o sábio teólogo lhe respondeu: “É mais fácil colocar toda a água do mar aqui do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido pelo homem. Quem fita o sol, deslumbra-se, mas quem persiste em fitá-lo nada mais enxerga”. É o que sucede com os mistérios da religião, pois quem pretende compreendê-los se deslumbra, mas quem se obstina em querer desvendá-los corre o risco de perde a fé, pela qual se crê. Verdadeiro ou não o referido  episódio retém assim uma profunda mensagem. É que os mistérios foram revelados pelo próprio Deus, merecedor de todo crédito. A filosofia pode demonstrar que não há nenhum absurdo nas verdades reveladas, mas a inteligência humana nunca será capaz de desvendá-las por ultrapassarem sua aptidão. Cumpre estar aberto para Deus, correspondendo às maravilhas que a fé oferece. Deus Uno e Trino é maior do que a inteligência humana. Cabe a quem crê anunciar por toda parte as maravilhas divinas para aqueles que não têm a felicidade de crer. Isto tanto mais urgente quando se vive num contexto impregnado de gnosticismo, de indiferentismo, de ateísmo, de materialismo, de indiferença para com as realidades espirituais. Muitos estão enclausurados  na imanência de sua própria razão ou dos seus sentimentos. Crer no Deus uno e Trino é, porém,  acreditar no Seu  amor e dele viver, acolhendo-O de todo coração. 
Saibamos sempre entrar nesta relação de intimidade com o Pai, o Filho e o Espírito Santo vivendo desde já em comunhão com a Trindade Santa

Programa de vida Cristã

Eis o ideal do autêntico seguidor de Cristo: descobrir continuamente a verdadeira vida espiritual, deparando a liberdade interior. Para tanto cumpre escutar o que Deus lhe fala a cada instante para crescer sempre na fé. Longe de querer negociar com o Senhor Onipotente se interessar mais por Ele, procurando Sua honra e glória.

 Uma entrega total a Ele, não por mero interesse de suas dádivas e favores celestes. Deste modo, a prece não se torna uma moeda, mas um instante sublime de comunicação com o Ser Supremo. É que Ele, livremente, gratuitamente quer, de Sua parte, entrar em contato com suas criaturas racionais. 

Com efeito, deseja que cada um se doe a Ele, porque o maior dom é Ele mesmo. O cristão é um servo de seu Senhor, mas cuja relação com Ele deve se situar nas regiões da gratuidade. Assim, a santidade na qual o batizado necessita se desenvolver será uma consequência e ele encontrará todas as bênçãos divinas como resultado desta atitude de entrega a Ele. Este Deus se torna destarte o grande amigo e a oração passa a  se desenvolver na silenciosa presença daquele Deus que se encontra no íntimo da alma. Aí a essência mesma da fé que realiza uma das dimensões essenciais da afinidade entre o homem e Deus. 

O ser racional tem então o afã de amar o seu Criador e passa a compreender quão suave é o Senhor. Uma descoberta maravilhosa. Deus, de fato, não resiste a um coração que se abre sem reticências para Sua presença. Qualquer temor fica afastado, dado que se passa simplesmente a amar a Deus que é amor. É o permitir que Ele exista lá dentro de cada um, dado que  é um Pai amoroso, terno que deseja a felicidade de seus filhos. Tudo isto supõe a renúncia que não é a recusa da alegria, mas a procura da autêntica liberdade. .Ruem desta forma por terra todos os falsos ídolos, os apegos fúteis ao que é transitório. 

Deus se torna o único bem. Abrir-se para Ele é orientar o desejo para aquilo que vale a pena valorizar e que durará por toda a eternidade na mais profunda quietude. Há, pois, uma necessidade de uma reorientação contínua para Deus, apartando os obstáculos terrenos que impedem a união com Ele. A partir daí o cristão ousa crer no contínuo perdão divino, mesmo porque há, sobretudo, o desapego completo do pecado e de tudo que possa desagradar a Deus. Compreender-se-á que os benefícios celestiais não dependem de grandes penitências em reparação das faltas humanas, mas da dileção profunda que se tenha para com Aquele que é a Misericórdia infinita. 

Assim sendo, o reconhecimento da própria fraqueza não entrava a ralação com Deus, mas, antes, a deve reforçar. O essencial não é o pecado, a debilidade inerente à contingência humana, mas a oblação a Deus, em cujas mãos o cristão procura inteiramente se entregar. Ficam também afastadas todas s formas de um ativismo sem rumo e, evidentemente, de todo imobilismo condenável. As preocupações tendem a ser tornar uma obsessão, entretanto quando tudo se faz para o louvor divino as ações calmamente se sucedem longe de toda agitação. Impregnadas da sensação do divino as horas se sucedem na tranqüilidade e o cristão contempla maravilhas em seu derredor. De fato, a adesão à vontade de Deus abre um acesso a novas potencialidades humanas que ficam tantas vezes submersas no agitamento dos fatos exteriores. 

Todas as ocasiões se tornam propícias porque Deus está junto daquele que nele confia É certo que a maneira de se pensar em Deus não pode ser constante e igual, mas o desejo, a reta intenção ficam duráveis, vivos em todas as circunstâncias. O perigo que o cristão corre é a dispersão e a fascinação pelas coisas criadas. O que se esquece muitas vezes é que Deus está presente na vida de cada um ainda quando alguém nele não esteja pensando. Aos poucos a vontade própria vai se identificando sempre mais com o querer divino e as menores ações se tornam orações por força de se querer o que Deus quer naquele instante. 

É assim que o cristão fica consciente de que ele se tornar feliz imerso na beatitude de Deus no qual vive numa atitude serena. É claro que todo este ideal de vida cristã  se dá através da união com Deus em Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, o qual, tendo tomado a natureza humana  é realmente o Caminho, a Verdade e a Vida. São Leão Magno deixou o magno alerta: “Cristão toma consciência de tua dignidade. Cristo se fez homem”.  Eis porque será sobretudo na participação na comunhão eucarística que seu discípulo verá crescer sempre mais sua intimidade com Deus.

Deus chama a todas as horas

Através de  uma parábola, Jesus mostrou a seus discípulos que “O reino dos céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para s sua vinha” (Mt 20). Observemos de início que Cristo fala em parábola, gênero literário por ele muitas vezes usado. Ao contrário da alegoria numa parábola é preciso procurar o ponto central da mensagem, porque nisto se encontra a lição principal do Mestre divino. O resto são detalhes que permitem oferecer um contraste, visando forçar a atenção e a avivar o interesse do interlocutor. Não era intento de Jesus manifestar a relação complexa entre patrões e trabalhadores numa ótica, por exemplo, neo-marxista. São João Crisóstomo que meditou profundamente esta parte do Evangelho levantou uma questão inicial de sumo valor, ou seja, “porque o empregador não chamou todos os operários ao mesmo tempo? Porque renovou o chamado durante todo o dia?” O douto exegeta e teólogo responde dizendo que o desejo de Deus foi chamar a todos ao mesmo tempo  para o seu Reino. Entretanto  na sua delicadeza e paciência Deus chama na hora mais oportuna que convém a outros convidados. Os apóstolos logo o seguiram, mas Dimas, por exemplo, só entraria no céu na última hora. Ele que é o Senhor do cronos e de sua vinha escolhe o instante mais propício para poder escutar o sim do ser racional que é livre. De fato, os homens se dão a Deus em idades e circunstâncias diferentes. Imperscrutáveis são os desígnios divinos. Aí vem, em seguida, a questão do pagamento. O patrão fora claro ao dizer que daria o salário justo, no caso, uma moeda de prata. O pagamento começou pelos últimos contratados para que os primeiros testemunhassem o que ele faria. Os primeiros assistem a paga dos últimos e percebem que é a mesma para todos. É que para Deus não há privilegiados. Todos são tratados igualmente. A medida de Deus é uma medida plena aos chamados para o seu Reino através de Jesus. Deus dá o máximo a cada um. O essencial da questão não é a generosidade de Deus como se faltasse qualquer coisa aos trabalhadores da primeira hora. O problema se situa do lado humano que estima injusta a liberalidade divina e cai então no pecado da inveja. No fundo a parábola lembra uma verdade essencial da fé: Para todos que crêem não há diferença perante o Ser Supremo. Com bem se expressou São Paulo na Carta aos Romanos (3,22-31), todos os homens pecaram e são privados da glória de Deus, mas todos foram gratuitamente justificados por pura graça divina. Todos justificados pelo Senhor Onipotente que ama a todos os homens em particular. Sua generosidade não tem limites e não é demarcada pelos méritos de cada um. Este Deus ultrapassa a justiça dos homens para dar infinitamente mais a cada um, mais do que ele tem direito a receber. Resta então louvar a bondade do Criador, Senhor de suas graças. Deste modo esta parábola encerra um ensinamento de sumo valor para a vida espiritual. Deus, realmente nos chama a todos e em todas as horas. Cumpre estar atentos. Notemos sempre, porém, que o chamamento divino é bem mais importante do que a recompensa advinda da correspondência ao convite do Pai. Toda atenção é pouca para escutar o apelo divinal para, imediatamente, segui-lo. É de se observar finalmente que o patrão da parábola, dando a todos a mesma paga, mostra que levou em conta não só o que prometera a cada um, mas também sua necessidade de emprego. Isto bem ao contrário de nossa sociedade capitalista que baseia a recompensa unicamente nos interesses econômicos dos ricos e, nem sempre, cuida dos trabalhadores nas mais diversas empresas. Deus se fundamenta muito mais nas necessidades pessoais de cada um, de cada pessoa em particular. É preciso haver o perfeito equilíbrio entre o salário e o mérito, um salário segundo as precisões de cada ser humano. O trabalho nunca pode ser considerado uma mercadoria, pois quem o faz é alguém criado à imagem e semelhança de Deus e possui também a dignidade de filho bem-amado deste Deus de bondade infinita. Os sindicatos e demais corporações trabalhistas nem sempre observam a estrita justiça e as reivindicações, mesmo porque há poucos ganhando muito e muitos recebendo pouco. Não assim na vinha do Senhor que é a Igreja para a qual todos são chamados a trabalhar, certos de que nela não há discriminação, mas aí reina a benignidade  de um Deus poderoso e infinitamente generoso. Ele precisa de sacerdotes, diáconos, catequistas, agentes comunitários para seu plantio que é o anúncio do Evangelho. Que cada um pese seus atos e se dê conta de que é preciso ser evangelizador. Não se preocupe com a recompensa, pois o Senhor sabe retribuir. Nunca é tarde para atender o seu convite!

O Cerne da Evangelização

Pregar o Evangelho é uma obra trabalhosa. Anunciar a Palavra de Deus exige perseverança, sobretudo, da parte dos pais, dos amigos, dos catequistas. É uma tarefa prioritária para todo batizado que participa do múnus profético e régio de Cristo.  Trata-se de uma proclamação do sentido e do mistério de Deus com relação ao ser humano, ou seja, à salvação que o Filho de Deus veio oferecer a todos. O efeito, a eficácia e o poder da Palavra dependem da graça de Deus, mas o cristão, que deseja ver o Evangelho conhecido, compreendido e praticado, se dispõe, antes de tudo, a ser um protótipo do que expõe por vocábulos e testemunho de vida. Esta é uma obrigação de todo cristão. É deste modo que se evitam as utopias e o desprestígio do Evangelho que precisa ser transmitido aos outros. Nada mais maléfico do que uma mensagem vazia, pragmática, sem o conteúdo essencial que é a realidade do projeto salvífico de Deus.  Este projeto se fundamenta num acontecimento crucial que é a crucifixão de Jesus no alto de uma Cruz. Aí se acha o ápice do plano soteriológico traçado pela misericórdia divina. Com efeito, o fato de o Pai ter sacrificado o Filho bem-amado abre perspectivas de uma esperança dentro de um horizonte luminoso. Isto precisa envolver o ser humano no mais total júbilo e é o fator motivador de sua conduta de acordo com o Decálogo. Então o batizado  percebe o quanto é querido de Deus. Não se deixa prender por qualquer tipo de angustia existencial e não cai nas tramas das desordens éticas. O referencial deve ser sempre Cristo que foi feito pelo Pai a sabedoria, a justiça, a santificação, a libertação daquele que o acata e vive em função dele. Eis por que São Paulo afirmou com muita convicção: “Eu sei em quem eu depositei minha confiança” (2 Tm 1,12). Tal a mensagem que o cristão precisa lançar por toda parte por palavras e obras de tal forma que a esperança de ter parte na glória de Deus seja o referencial de todas as atitudes humanas. (Rm 5,2). Assim pedagogicamente se expressou o Apóstolo: “Eu estimo que, efetivamente, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção alguma com a glória que há de se revelar em nós” (Rm 8,18)). Não se deve, portanto, nunca tirar o foco da felicidade eterna oferecida pela redenção de Cristo. Este destino sublime não está reservado a uma elite, mas a todos de boa vontade que acolhem o maravilhoso intuito desta salvação exotérica universal. Esta salvação não é esotérica reservada a uns poucos iniciados, mas precisa ser apregoada publicamente pelos que se dedicam à evangelização. Estes a empregarem sempre a linguagem da fé alicerçada na força sobrenatural, espiritual e divina. Então o cristão pode superar a antítese morte e vida, carne e espírito, trevas e luz, sabedoria humana e ciência de Cruz. Assim, se pode perceber que o Evangelho apresenta valores feitos de ausência radical de orgulho, supondo uma humilde disponibilidade para a recepção dos dons do Espírito Santo. Portanto, este contato com a Boa Nova necessita ser levada a todos, por toda parte e em todas as circunstâncias. Trata-se da conversão contínua de cada em busca da perfeição, da santidade de vida, na qual o ser humano plenamente se realiza. Fora deste ideal só pode reinar a decepção e a entrega aos vícios mais aviltantes. O ser humano carnal ou psíquico carece ser transfigurado em um ser sobrenaturalizado. A inteligência humana transformada pelo Espírito divino, atingindo um discernimento superior. Se isto não se dá é vão o trabalho evangelizador. Muitos então deixam de  alcançar a identidade cristã através da justificação pela fé (Ef 2,8). É gratificante e imperioso ser apóstolo, mas é preciso sempre atinar com a essência mesma da missão de Cristo que, para salvação de todos, desceu do céu e operacionalizou esta salvação através de sua Cruz redentora. O autêntico epígono de Cristo deve ser proativo, ou seja,  aquele que age de um modo dinâmico, eficaz. Não reage apenas, não cai na defensiva. Não procura desculpas para justificar seus erros. Num mundo que exige denodo na difusão do bem ele se antecipa às dificuldades, planeja estratégias diretoras e faz um apostolado inteligente.  Quem não reage fica, passivo, à espera de estímulos e comandos externos e acaba envolvido nas fantasias e ilusões improdutivas e, até, ruinosas. O proativo calcula, reflete e vai à frente. Aperfeiçoa-se para poder melhorar, de plano, o contexto em vive e assim tornar melhor a sociedade toda.
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